ENTRE A FLOR E O PARAFUSO
por Simão GoldmanLá vão eles
Lá vão eles que somos nós
Marchando às pressas, empurrando
Nadando num mar de ansiedades sem uma triste bússola
Sem tempo para sorrir sem tempo para amar
Apenas tempo para correr
Escravos de outros escravos
Acorrentados por algemas psíquicas
Mais escravos do que os escravos dos navios negreiros
Fiéis vassalos de uma nova ordem que só tem uma ordem
Correr, correr, correr
Atrás de uma recompensa pré-frabricada
Sem tempo para pensar sem tempo para se situar
Neste universo de universos infinitos
Um homem só, sem tempo para parar, só tempo para correr
Um homem só, a correr, a correr, a correr
Entre montanhas de concreto da cidade
Ande, pare, consuma...Ande, pare, consuma...Ande, pare, consuma....
Não há mais tempo para sonhar, não há mais tempo para dormir
E nos sonhos a ansiedade matar
Apenas sinais, sinais, sinais.
Ande...pare...ande...pare...Volkswagen...Coca-cola,www
Anda robô, anda robô
Entre a cultura massificada e rotulada
Tu és feliz, tu és feliz, tu és feliz
Tu vives na era tecnológica mas não tens tempo para sorrir
Não tens tempo para chorar
Apenas tempo para correr
Correr, correr, correr
Fazer parte da coisificação humana
Numa natureza que se transformou
Num amontoado de alavancas, pregos e parafusos
Onde não há lugar para a flor
E passaram-se mil, cinco mil, trinta mil anos
Um dia um homem sereno, traquilo
Leu sobre o século vinte e não acreditou que aquilo existiu
Acariciou a flor que estava ao seu lado
E que tinha o mesmo perfume de sempre
Beijou-a ternamente, sorriu
(Qual é a sua flor? Eu pergunto)